Processos de vulnerabilização e desigualdades abissais: seria a terra plana e o coronavírus redondo?

Autores

  • Sérgio Portella Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro/RJ https://orcid.org/0000-0002-1514-7449
  • Simone Oliveira Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rio de Janeiro/RJ

DOI:

https://doi.org/10.19180/1809-2667.v23n12021p315-324

Palavras-chave:

Desastres, Pandemia, Desigualdades, Processo de vulnerabilização

Resumo

Em um mundo construído por processos de vulnerabilização e desigualdades abissais, poderíamos classificar a pandemia do Covid-19 como um desastre biológico natural? O processo de naturalização das crises provocadas pelas emergências sanitárias, como a pandemia, ou de desastres em geral, é uma tendência no modo como a imaginação ocidental trata desses problemas. A construção de comunicação sobre a pandemia segue essa tendência e podemos seguir essa naturalização, como um modus operandi, seja em uma pandemia, seja em um desastre, quando chamado de natural. Este ensaio segue esse modus operandi no seu passo a passo para a pandemia do coronavírus. Como se naturaliza um desastre ou uma pandemia? O ato de naturalização dos eventos extremos, busca justamente estabilizar fatos. Esse “natural” seria indiferente à ação humana, amoral, atemporal, e caracterizado por um automatismo comandado por leis alegadamente imutáveis – físicas, naturais ou tão imutáveis quanto: de Deus. Fica bem claro que natural e divino são aqui sinonímias. Naturalizar, objetivar, coisificar, reificar, dar contornos, limitar, isolar: é assim que se constroem fatos e suas naturezas! Mas aqui, também temos a invisibilização dos processos de vulnerabilização das populações: a crença num mundo plano e num vírus redondo!

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Sérgio Portella, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro/RJ
    Doutor em Território, riscos e Políticas Públicas/Universidade de Coimbra. Estratégia Fiocruz para Agenda 2030. Fundação Oswaldo Cruz – Rio de Janeiro/RJ – Brasil. E-mail: spportella@mail.com.
  • Simone Oliveira, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rio de Janeiro/RJ
    Doutora em Saúde Pública/Fiocruz. Escola Nacional de Saúde Pública. Fundação Oswaldo Cruz – Rio de Janeiro/RJ – Brasil. E-mail: simone@ensp.fiocruz.br.

Referências

CALLON, M.; LASCOUMES, P.; BARTHE, Y. Agir dans un monde incertain: Essai sur la démocratie technique. Paris, Seuil, 2001.

FASSIN, D.; RECHTMAN, R. L’empire du traumatisme: enquête sur la condition de victime. Paris: Flammarion, 2007.

HOFFMANN, M. et al. Chloroquine does not inhibit infection of human lung cells with SARS-CoV-2. In: Nature, n. 550, p. 588–590, 2020.

LATOUR, B. A esperança de Pandora. Bauru: Edusc, 2001.

LAVELL, A. et al. La construcción social de la pandemia COVID-19: desastre, acumulación de riesgos y políticas públicas. La Red. Red de Estudios Sociales em Prevención de Desastres em América Latina, 2020. Disponível em: https://www.desenredando.org. Acesso em: 13 jun. 2020.

LIY, M. V. OMS conclui que o coronavírus é de origem animal e indica que não surgiu no mercado de Wuhan. El País, 9 set. 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-02-09/oms-conclui-que-o-virus-e-de-origem-animal-e-indica-que-nao-surgiu-no-mercado-de-wuhan.html. Acesso em: 2021.

NATENZON, C. Vulnerabilidad, incertidumbre y planificación participativa de desastres: el caso de las inundaciones catastróficas en Argentina. In: PORTO, M. F.; FREITAS, C.M. (org.). Problemas ambientais e vulnerabilidade. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2003. p. 57-78.

PETERS, A. Peters World Map. 1974. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Arno_Peters#cite_note-3. Acesso em: 2020.

PORTELLA, S; OLIVEIRA, S. Pensamentos durante o nevoeiro: a pandemia Covid-19. In: VALENCIO, N.; OLIVEIRA, C. M. (org.). COVID-19: crises entremeadas no contexto de pandemia (antecedentes, cenários e recomendações). São Carlos: UFSCar, CPOI, 2020a. p. 371-381.

PORTELLA, S; OLIVEIRA, S. A naturalização da Pandemia no Brasil. In: COVID-19–Perspectivas. Coimbra, Portugal: Observatório Osiris. CES. Universidade de Coimbra, 2020b. Disponível em: https://www.ces.uc.pt/ficheiros2/sites/osiris/files/OSIRIS_Portella-Santos%20Oliveira.pdf. Acesso em: 2020.

PORTELLA, S. O saber urgente do saber das urgências: redução de riscos e desastres no Brasil. 2017. Tese (Doutorado) – Universidade de Coimbra, Portugal, 2017. Disponível em: http://hdl.handle.net/10316/79583. Acesso em: 2020.

SANTOS, B. S. Para além do Pensamento Abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. Rev. Crítica de Ciências Sociais, v. 78, p. 3-46, 2007.

SANTOS, M. Território, globalização e fragmentação. 4. ed. São Paulo: HUCITEC, 1998.

VALENCIO, N. Elementos constitutivos de um desastre catastrófico: os problemas científicos por detrás dos contextos críticos. Ciência e Cultura, v. 68, n. 3, p. 41-45, 2016.

Publicado

30-04-2021

Edição

Seção

Dossiê Temático: "Riscos e Desastres Socioambientais"

Como Citar

Processos de vulnerabilização e desigualdades abissais: seria a terra plana e o coronavírus redondo?. Revista Vértices, [S. l.], v. 23, n. 1, p. 315–324, 2021. DOI: 10.19180/1809-2667.v23n12021p315-324. Disponível em: https://editoraessentia.iff.edu.br/index.php/vertices/article/view/15898.. Acesso em: 23 abr. 2024.