O interesse individual como justificação: a gramática liberal na construção da colegialidade dos professores do ensino Básico e Secundário

Autores

DOI:

https://doi.org/10.19180/1809-2667.v23n32021p734-755

Palavras-chave:

Regimes de envolvimento, Gramáticas de comunialidade, Profissionalidade docente, Colegialidade docente, Organização do trabalho escolar

Resumo

A reconfiguração nas orientações em matéria de política educativa nas últimas décadas à escala transnacional, tendo na eficácia o bem visado, acarreta consequências profundas para o trabalho docente do ponto de vista das formas de organização do trabalho escolar nos estabelecimentos de ensino – em particular, o reforço das formas colegiais de trabalho, enquadradas em hierarquias que exercem um maior escrutínio sobre as práticas. Estas injunções não significam, contudo, uma reprodução direta por parte daqueles profissionais no exercício na sua atividade. Com particular incidência sobre resultados recolhidos de um questionário por cenários aplicado no quadro de uma investigação realizada em Portugal centrada na problemática da pluralidade de conceções e formatos de envolvimento na profissão docente, o presente artigo pretende explorar, no quadro de uma sociologia dos envolvimentos e comunalidades, a forma como a gramática dos indivíduos num público liberal, caracterizada pelo enfoque nos interesses individuais generalizáveis enquanto quadro normativo, é suscetível de ser operacionalizada pelos professores como dispositivo de crítica e resistência à evolução nas formas de organização das práticas no sentido de reforço da colegialidade e institucionalização do trabalho concertado.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Luís Gouveia, CICS.NOVA - Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa
    Doutor em Sociologia pela Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (2017). Investigador na Universidade Nova de Lisboa, Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais – Lisboa – Portugal. E-mail: lcgouveia86@gmail.com.

Referências

BARRÈRE, A. O trabalho em equipa e os riscos da gestão da turma. Análise Social, v. XL, n. 146, p. 619-631, 2005.

BOLTANSKI, L. A moral da rede? Críticas e justificações nas evoluções recentes do capitalismo. Forum Sociológico, v. 5/6, n. 2, p. 13-35, 2001.

BOLTANSKI, L. Love and Justice as Competences. Cambridge: Polity Press, 2011.

BOLTANSKI, L.; THÉVENOT, L. On Justification: Economies of Worth. New Jersey: Princeton University Press, 2006.

BREVIGLIERI, M. Habiter l’espace de travail. Perspectives sur la routine. Histoire & Sociétés, v. 9, p. 18-29, 2004.

BRISARD, E. Conclusion. In: MALET, R.; BRISARD, E. (dir.). Modernisation de l’école et contextes culturels : Des politiques aux pratiques en France et en Grande-Bretagne. Paris: L’Harmattan, 2005. p. 263-273.

DEROUET, J.-L.; DEROUET-BESSON, M.-C. Crise du projet de le démocratisation de l’enseignement ou crise d’un modèle de démocratisation? Les recompositions parallèles des formes de l’État et des formes de justice. In: DEROUET, J.-L ; DEROUET-BESSON, M.-C. (ed.). Repenser la justice dans le domaine de l’éducation de la formation. Lyon: Peter Lang, INRP, 2009. p. 3-23.

DODIER, N. O espaço e o movimento do sentido crítico. Forum Sociológico, v. 13/14, p. 239-277, 2005.

DUBAR, C. La socialisation: construction des identités sociales et professionnelles. Paris: Armand Colin, 1991.

DUBET, F. Le déclin de l’institution. Paris: Éditions du Seuil, 2002.

DUMAY, X. Evaluation et accompagnement des établissements en Europe: diversité et mécanismes d’hybridation. Les Cahiers de Recherche En Éducation et Formation, v. 76, 2010. Disponível em: https://halshs.archives-ouvertes.fr/halshs-00561486.

DUTERCQ, Y. MEURET Denis. Gouverner l'école: une comparaison France/États-Unis. Revue française de pédagogie, n. 160, p. 164-167, jul./set. 2007. DOI: https://doi.org/10.4000/rfp.869

ERANTI, V. Engagements, grammars, and the public: From the liberal grammar to individual interests. European Journal of Cultural and Political Sociology, v. 5, n. 1/2, 2018. DOI: https://doi.org/10.1080/23254823.2018.1442733.

GOUVEIA, L. Porque se mobilizam os Professores? Representações colectivas e coordenações de ações públicas dos professores do ensino básico e secundário em função de juízos plurais sobre o que é ser um bom professor em contexto de incerteza. 2017. Tese (Doutoramento em Sociologia) – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), Universidade NOVA de Lisboa, Lisboa, 2017.

HUGHES, E. C. The Sociological Eye: selected papers. New Brunswick: Transaction Publishers, 1993.

LAMONT, M., THÉVENOT, L. (ed.). Rethinking comparative cultural sociology: Repertoires of evaluation in France and the United States. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.

LIMA, L. C. O agrupamento de escolas como novo escalão da administração desconcentrada. Revista Portuguesa de Educação, v. 17, n. 2, pp. 7-47, 2004.

MALET, R.; BRISARD, E. Injonctions au travail concerté et culture du collectif dans les établissements du secondaire anglais et français. In: MALET, R; BRISARD, E. (dir.). Modernisation de l’école et contextes culturels: Des politiques aux pratiques en France et en Grande-Bretagne. Paris: L’Harmattan, 2005a. p. 129-147.

MALET, R.; BRISARD, E. Travailler ensemble dans l’enseignement secondaire en France et en Angleterre. Recherche et Formation, v. 49, p. 17-33, 2005b.

MAROY, C. Le modèle du praticien réflexif á l’épreuve de l’enquête en Belgique. In: TARDIF, M; LESSARD, C. (dir.). La profession d’enseignants aujourd’hui: Évolutions, Perspectives et Enjeux Internationaux. Bruxelles: De Boeck, 2004. p. 67-93.

MAROY, C.; VOISIN, A. As transformações recentes das políticas de accountability na educação: desafios e incidências das ferramentas de ação pública. Educação & Sociedade, v. 34, n. 124, p. 881-901, 2013.

NORMAND, R.; VINCENT-DALUD, M. Sciences de gouvernement de l’éducation et réseaux transnationaux d’experts: la fabrication d’une politique européenne. Education et sociétés, v. 29, p. 103-123, 2012.

NÓVOA, A. Formação de Professores e Profissão Docente. In: NÓVOA, A. (org.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Publicações D. Quixote, 1992. pp. 13-33.

OGIEN, A. Désacraliser le chiffre dans l’évaluation du secteur public. Versailles: Éditions Quae, 2013.

PORTUGAL. Decreto-Lei no 75, de 22 de abril de 2008. Diário da República Eletrônico, 79/2008, Série I de 22 de abril de 2008. Disponível em: https://dre.pt/pesquisa/-/search/249866/details/maximized. Acesso em: 2020.

RAYOU, P.; VAN ZANTEN, A. Enquête sur les nouveaux enseignants. Changeront-ils l’école? Paris: Bayard, 2004.

RESENDE, J. M. A Sociedade contra a Escola? A Socialização Política Escola num Contexto de Incerteza. Lisboa: Instituto Piaget, 2010.

RESENDE, J. M.; DIONÍSIO, B. A escola pública como «arena» política: contexto e ambivalências da socialização política escolar. Análise Social, v. 176, p. 661-680, 2005.

RESENDE, J. M., MARTINS, A. (coord.). (Con)vivemos numa sociedade justa e decente? Críticas, envolvimentos e transformações. Porto: Fronteira do Caos, 2017.

STAVO-DEBAUGE, J. L’idéal participatif ébranlé par l’accueil de l’étranger. L’hospitalité et l’appartenance en tension dans une communauté militante. Participations, v. 9, p. 37-70, 2014.

TARDIF, M., LESSARD, C. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis: Editora Vozes, 2009.

THÉVENOT, L. L’action au pluriel: Sociologie des régimes d’engagement. Paris: Éditions La Découverte, 2006.

THÉVENOT, L. The Plurality of Cognitive Formats and Engagements: Moving between the Familiar and the Public. European Journal of Social Theory, v. 10, n. 3, p. 413-427, 2007. DOI: https://doi.org/10.1177/1368431007080703

THÉVENOT, L. Conventions for measuring and questioning policies: the case of 50 years of policy evaluations through a statistical survey. Historical Social Research, v. 36, p. 192-217, 2011.

THÉVENOT, L. Voicing concern and difference: from public spaces to commonplaces. European Journal of Cultural and Political Sociology, v. 1, n. 1, p. 7-34, 2014.

TROM, D. Grammaire de la mobilisation et vocabulaires de motifs. In: CEFAÏ, D.; TROM, D. (org.). Les formes de l’action collective. Paris: EHESS, 2001. p. 9-26.

Publicado

26-08-2021

Edição

Seção

Dossiê Temático: "Questões contemporâneas da educação no Brasil e em Portugal"

Como Citar

O interesse individual como justificação: a gramática liberal na construção da colegialidade dos professores do ensino Básico e Secundário. Revista Vértices, [S. l.], v. 23, n. 3, p. 734–755, 2021. DOI: 10.19180/1809-2667.v23n32021p734-755. Disponível em: https://editoraessentia.iff.edu.br/index.php/vertices/article/view/15974.. Acesso em: 28 mar. 2024.